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Siglas e siglas ou como navegar na vida com nomes abreviados

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No nosso dia a dia convivemos com siglas que aparecem facilmente em qualquer conversa, sem aviso prévio ou cerimônias especiais. Raramente paramos para pensar nessa linguagem compacta que marca o pulso da Argentina contemporânea, bem como de outros países.

Há mais de dez anos, motivado pela curiosidade e por uma memória que nem sempre colaborava, comecei a anotar essas combinações de letras, sílabas ou preposições que circulavam ao meu redor e o que significavam. O que começou como uma simples lista foi revelando, aos poucos, que por trás de cada abreviatura existe uma história, um enquadramento cultural que exigia que fosse percorrido.

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Muitas vezes, se perguntássemos na rua o que é exatamente uma sigla, surgiria alguma confusão. É comum confundir sigla com sigla, ou ignorar que algumas palavras comuns nasceram como iniciais ou combinações de sílabas. As siglas funcionam como etiquetas de leitura rápida: DGI, AUH, FMI, FIAT, RENAPER. Vários desses termos tornaram-se tão comuns que os usamos quase sem prestar atenção ao seu significado original. Sinto-me atraído ao ver como a linguagem, no seu desejo de sintetizar, consegue reduzir frases longas a séries muito curtas de letras ou palavras.

Siglas, aquelas siglas que podem ser ditas como uma palavra, apresentam uma peculiaridade atraente. AFA (Associação Argentina de Futebol) exemplifica o que chamo de “sigla simples”, pela pura união de iniciais. Já o RENAPER surge da mistura de sílabas que resultam em uma palavra com vida própria, nascida de anteriores (Cadastro Nacional de Pessoas) formando parte do que chamo de “siglas complexas”.

Assim, surgem termos que não apenas economizam espaço, mas também estabelecem códigos compartilhados, embora a compreensão seja muitas vezes difícil para quem não conhece a trama original.

Há uma engenhosidade dos criadores de retroacrônimos em trabalhar com a ductilidade da linguagem em busca de uma comunicação eficaz”

Em relação às retroacrónimos, o público em geral tende a ignorar a sua existência e o que representam. Aqui, ao contrário do que acontece com as siglas, é uma palavra já existente, mas é então atribuído um significado a cada letra que está associada no seu sentido à coisa representada pela retroacrónima: por exemplo ARCA, que é a palavra existente mas representa a Administração de Arrecadação e Controlo Aduaneiro; ou SUBE, onde o verbo subjacente “Subir” é ressignificado no Sistema de Bilhete Único Eletrônico.

Essas criações mostram a engenhosidade dos criadores de retroacrônimos em trabalhar com a ductilidade da linguagem em busca de uma comunicação eficaz.

Decifrar estes mecanismos não é apenas uma satisfação intelectual, mas uma forma de compreender melhor os laços que nos unem, a forma como uma comunidade decide representar-se e nomear a sua própria realidade. “Quando você sai da DGI, você pega o 135. Você desce no Banco Nación. Na frente fica a agência da Entel e, na volta, o escritório da Segba, ao lado da YPF”, poderia ser um exemplo daquele mapa invisível de termos que já foram comuns e que, com o tempo, caem em desuso e se transformam em novos.

A pesquisa por trás do meu livro Acrônimos, Acrônimos e Retroacrônimos. Um estudo das línguas abreviadas como formas de comunicação” foi mais do que um exercício de arquivo, uma viagem pela vida social, tecnológica e institucional do país. À medida que fui gravando novas siglas, surgiram questões sobre a sua origem, os seus usos e o destino que têm quando deixam de ter utilidade ou dão lugar a outras expressões.

Sinto que convidar leitores de todas as idades a descobrir como nascem e se impõem estas linguagens abreviadas é um convite a repensar a comunicação quotidiana e institucional.

Compreender siglas, siglas e retroacrônimos é olhar para a forma como a linguagem, silenciosamente, molda os laços de uma sociedade que não para de se reinventar.

*Advogado, escritor e autor de “Siglas e Retroacrônimos. Um estudo das línguas abreviadas como formas de comunicação”



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