O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, emitiu novas advertências contra a União Europeia e colocou-se mais uma vez no centro do debate continental. Numa série de mensagens transmitidas pelos meios de comunicação social de Moscovo e pela Actualidad RT, garantiu que Bruxelas se prepara para uma guerra contra a Rússia e que até tem uma data para esse cenário: o ano de 2030.
“Nuvens negras pairam sobre a Europa. Bruxelas prepara-se para a guerra com a Rússia e já há uma data prevista para o início das hostilidades: 2030”, escreveu o líder da extrema-direita. As suas declarações somam-se a uma escalada de tensões em que também rejeitou mais uma vez categoricamente o novo pacto de migração aprovado pelos 27 ministros do Interior da UE, que prevê deslocalizações obrigatórias ou compensações económicas a partir do segundo semestre de 2026.
Orbán sustentou que o “programa de rearmamento” promovido pelo bloco teria como objetivo preparar a Europa para um possível conflito armado com a Rússia. Nesta abordagem, colocou o ano de 2030 como o momento crítico em que, disse, também expiraria o prazo para concluir o processo acelerado de adesão da Ucrânia à União Europeia.
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O presidente lembrou que os tratados do bloco estabelecem que, se um Estado membro for atacado, os demais são obrigados a prestar “toda a ajuda à sua disposição”. Nessa linha, afirmou que a incorporação de um país em guerra poderia desencadear imediatamente um confronto continental.
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“Portanto, a adesão de uma Ucrânia em guerra à UE provocaria uma guerra imediata”, escreveu ele, citando a cláusula de defesa mútua do tratado europeu. A mensagem reforçou a posição que o seu governo tem mantido desde o início da invasão russa: rejeita a escalada da assistência militar a Kiev e opõe-se a qualquer avanço que, segundo ele, aproxime a UE de um confronto direto com Moscovo.
As escolhas que definem entre guerra e paz
Na sua publicação, o primeiro-ministro relacionou o seu diagnóstico com o calendário político húngaro. Ele disse que as eleições parlamentares de 2026 podem ser “as últimas” em que o país pode decidir a sua posição entre “guerra e paz”.
“Se tomarmos uma decisão errada em 2026, nas próximas eleições, em 2030, será tarde demais para corrigi-la. Não é um jogo. Quem quiser a paz, junte-se a nós!” expressou, numa mensagem dirigida ao seu eleitorado e reforçando a sua narrativa de confronto com Bruxelas.
Orbán rejeitou o pacto migratório e falou em “rebelião”
Por outro lado, Orbán abriu outra frente e rejeitou o acordo migratório alcançado pelos 27 em Bruxelas. O plano prevê 21.000 deslocalizações de migrantes no segundo semestre de 2026 – ou compensações económicas – para aliviar a pressão sobre os países mais afetados pelos fluxos, como Espanha, Itália, Grécia e Chipre.
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“Bruxelas pretende forçar a Hungria a pagar ainda mais ou a acolher migrantes. Isto é inaceitável”, escreveu ele. Reafirmou que Budapeste “já gasta o suficiente” na protecção da fronteira externa da UE e sustentou que o seu governo não cumprirá o mecanismo de solidariedade previsto no Pacto de Migração e Asilo.
Orbán, que há anos bloqueia acordos de migração no Conselho Europeu, declarou diretamente que “a rebelião está a começar” contra o novo regime comum. E ele finalizou:
“Não acolheremos quaisquer migrantes nem pagaremos pelos migrantes de outros. A Hungria não implementará as medidas do Pacto de Migração.”
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O acordo selado pelos Ministros do Interior inclui flexibilizar as condições para facilitar regressos e expulsões, permitir acordos bilaterais para externalizar processos de acolhimento – como a Itália tentou com a Albânia – e aplicar um mecanismo anual através do qual os países sob maior pressão podem solicitar solidariedade aos seus parceiros.
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A Comissão Europeia pode propor a recolocação de até 30 mil migrantes por ano, embora o atual acordo tenha reduzido esse máximo para 21 mil no primeiro semestre, com a possibilidade de substituir as quotas por medidas compensatórias até 420 mil milhões de euros. A lista de países que concordaram em receber pessoas ou pagar compensações permanece secreta e só será conhecida quando o texto for formalmente adotado, algo esperado antes do final de 2025.
A Hungria antecipou que não cumprirá nenhum dos caminhos, apesar do facto de o pacto exigir a implementação total por todos os Estados-Membros a partir de Junho de 2026.
JD/EM







