Conhecida como ‘Pequena Holanda’, a seleção de Curaçao representará a nação menos populosa a disputar a Copa do Mundo; Haitianos comemoram conquista após disputar eliminatórias fora de casa devido à escalada da violência no país
Ricardo Makyn/AFP Jogadores e torcedores de Curaçao comemoram a classificação para a Copa do Mundo de 2026 após empate em 0 a 0 com a Jamaica
Haiti e Curaçao garantiram vagas diretas para a Copa do Mundo de 2026 nesta terça-feira (18) e serão a grande novidade entre os times estreantes (ou que retornam após um longo hiato) no torneio. As classificações, obtidas na última rodada da fase final das Eliminatórias da Concacaf, encerram campanhas marcadas por superação, estabilidade tática e, principalmente, contextos nacionais e esportivos muito diferentes.
Haiti: retorno após 52 anos em meio ao caos interno
O Haiti voltará a disputar a Copa do Mundo pela primeira vez desde 1974. Sua vaga foi confirmada com a vitória por 2 a 0 sobre a Nicarágua, em Willemstad, capital de Curaçao, resultado que garantiu a primeira colocação do Grupo C, com 11 pontos —à frente de Honduras e Costa Rica, seleções mais tradicionais da região.
A classificação tem caráter histórico e simbólico. A equipe é liderada há 18 meses pelo francês Sébastien Migné, que nunca conseguiu pisar no Haiti devido à escalada da violência e ao controle territorial de gangues armadas. Com os voos internacionais interrompidos e o risco extremo em Porto Príncipe, o treinador teve que trabalhar remotamente, contando com vídeos, telefonemas e relatórios enviados pelos gestores locais.
Impossibilitado de jogar em casa, o Haiti disputou todos os seus jogos como “casa” em Curaçao, a quase 800 km de distância. E, apesar do cenário adverso, montou um elenco formado exclusivamente por jogadores que atuam no exterior, como Jean-Ricner Bellegarde (Wolverhampton) e outros atletas espalhados por ligas europeias.
Colocado em último lugar do seu grupo na única participação anterior, em 1974, o país volta à Copa do Mundo com a expectativa de transformar uma campanha marcada pela resiliência em uma oportunidade de reconstrução de sua identidade esportiva.
Curaçao: a ilha de 160 mil habitantes que chega à sua primeira Copa do Mundo
Se o Haiti retornar depois de meio século, Curaçao comemora sua primeira classificação na história. O empate em 0 a 0 com a Jamaica, em Kingston, confirmou a liderança do Grupo B com 12 pontos e encerrou uma campanha invicta na fase final das Eliminatórias. O feito é ainda mais significativo porque Curaçao se torna o país menos populoso a disputar uma Copa do Mundo. Com cerca de 160 mil habitantes — proporção semelhante à população do bairro de Copacabana — a ilha supera o recorde recentemente estabelecido por Cabo Verde.
A ascensão de Curaçao é resultado de uma estratégia consolidada. A equipa, apelidada de “Pequena Holanda”, aproveita ao máximo a diáspora no futebol europeu: 23 dos 24 convocados nasceram na Holanda e têm origem familiar na ilha. A exceção é Tahith Chong, natural de Curaçao, revelado pelo PSV e ex-Manchester United.
Treinada pelo experiente holandês Dick Advocaat, a equipe reúne jogadores de ligas relevantes — como Leandro Bacuna, Sontje Hansen e Obismo — e tem um histórico de competitividade crescente. Antes da última rodada, venceu as Bermudas por 7 a 0 e mostrou solidez defensiva ao segurar a Jamaica, apesar de estar sob intensa pressão.
A classificação foi comemorada nas ruas e online, marcando o maior momento esportivo da ilha desde o fim das Antilhas Holandesas em 2010. A federação local mantém campeonatos nacionais e clubes que já fizeram campanhas relevantes na Concachampions, como o Jong Colombia, duas vezes vice-campeão continental.
*Com informações da AFP








