O governo nacional enviou esta segunda-feira ao Congresso o projeto de reforma integral do Código Penal, uma iniciativa que aspira redesenhar o sistema punitivo argentino e que, segundo a ex-ministra da Segurança e senadora nacional eleita, Patricia Bullrich, busca “virar uma realidade onde os favorecidos eram os criminosos”. O texto, elaborado pelo Poder Executivo e apresentado na Casa Rosada em conjunto com o Chefe da Casa Civil, Manuel Adorni, propõe uma mudança estrutural em termos de penas, execução e participação das vítimas.
“O Congresso terá uma missão histórica”, disse Patrícia Bullrich ao apresentar o projeto. O ministro sustentou que o atual Código Penal “foi desenhado para 1921, onde não existiam muitos crimes que hoje são importantes” e que, ao longo das décadas, “teve muitas modificações, remendos”. Ele também observou que “os Códigos não são alterados todos os dias” e definiu a iniciativa como uma tentativa de construir um órgão regulador moderno e coerente.
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penalidades mais severas
Um dos pontos centrais é a modificação do sistema de penas. O homicídio simples aumenta o seu máximo de 25 para 30 anos e o homicídio agravado incorpora novas circunstâncias especialmente protegidas: funcionários públicos – incluindo o Presidente – professores no exercício das suas funções, menores de 16 anos e adultos com mais de 65 anos.
Para o Executivo, a “porta giratória” está formalmente desativada. O projeto estabelece que 82% dos crimes serão efetivamente aplicados, limita a possibilidade de libertações temporárias e exige que as vítimas ou seus familiares sejam notificados antes de qualquer benefício, desde libertações condicionais até liberações educacionais. Bullrich justificou este ponto com casos em que pessoas libertadas reincidiram sem que a vítima fosse informada.
O esquema inclui uma disposição que atualiza a acumulação de penas em casos de homicídios múltiplos, especialmente ligados ao crime organizado, um problema que o Governo observa de perto em Rosário e outros territórios.
Tráfico de drogas, roubos e violência urbana: o crime “sempre importa”
A ministra dedicou parte de sua apresentação a questionar o que definiu como uma “filosofia que minimizou” acontecimentos como assaltos a transeuntes, ataques de motocicletas ou ameaças com armas não disparadas. “Tudo importa. Sair com arma tem um propósito e esse dano também deve ser punido”, afirmou. Nessa lógica, o projeto endurece as penas para crimes contra o patrimônio quando há violência, uso de armas ou ação coletiva.
Os ajustes também estão incluídos no tráfico de drogas, no tráfico de pessoas, na pornografia infantil e nos sequestros com pedido de resgate, todos classificados entre os atos mais graves.
Imprescritibilidade dos crimes graves e reforma da legítima defesa
O projeto declara crimes imprescritíveis como homicídio qualificado, abuso sexual em todas as suas formas, tráfico, sequestro para resgate, terrorismo, financiamento do terrorismo, corrupção de menores e ataques à ordem constitucional. Bullrich relacionou essa decisão a situações em que os agressores escapam à investigação durante anos e regressam ao país sem possibilidade de serem julgados. Em particular, destacou que as vítimas de abuso sexual infantil costumam levar décadas para poder denunciar: “Se falam 30 anos depois, o Estado deve ouvi-las”, afirmou.
Outra mudança fundamental é a presunção a favor de quem se defende. O ministro sustentou que, em caso de ataque com arma real ou de apoio, o Código deve priorizar a situação da vítima e não a posterior interpretação do tipo de arma.
Acidentes de trânsito e direção imprudente
A reforma incorpora a figura da direção imprudente, exigida há anos por organizações como Madres del Dolor. As penas passarão dos atuais 1 a 3 anos para uma escala de 2 a 6 anos, e de 3 a 6 nos casos agravados. A intenção é estabelecer clara responsabilidade criminal para quem dirige com negligência, uso de celular ou manobras arriscadas.
Um ginecologista que enfrenta julgamento por abuso sexual continua trabalhando em uma clínica de sua propriedade
Corrupção com penas “muito graves”
Conforme anunciado por Patrícia Bullrich, o projecto estabelece que os crimes de corrupção pública terão penas “graves e gravíssimas”, em linha com a sua proposta de que aqueles que ocupam cargos de Estado devem enfrentar um padrão de responsabilidade mais elevado. “Se você é funcionário público você tem mais responsabilidade, tem que cuidar do dinheiro das pessoas, não pode roubar”, afirmou.
O ministro acrescentou que os responsáveis “têm que agir como quem se compromete a defender o cidadão quando juram por Deus, pela Pátria, pelos Santos Evangelhos e dizem que vão fazer cumprir a Constituição e todas as suas leis”. Nesse sentido, sustentou que “se um funcionário o fizer, pagará caro”.
Bullrich enquadrou esta mudança na premissa geral que permeia toda a reforma: “Quem faz isso paga por isso”.
Um código único com aplicação nacional
O projeto visa unificar critérios em todo o país: as províncias não poderão alegar diferenças nos seus códigos processuais para modificar a execução de uma sentença ou o acesso a benefícios. A intenção é criar um padrão homogêneo em matéria penal, reduzir interpretações divergentes e garantir a execução das sentenças.
A Casa Rosada confia que a discussão legislativa se tornará um dos debates centrais do ano parlamentar. Na opinião do Governo, a reforma representa uma oportunidade para definir um rumo a longo prazo em matéria penal. Agora o Congresso deve definir se acompanha uma transformação que promete impactar plenamente o funcionamento do sistema penal argentino.
GD







