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Brasil: polícia frustrou fuga de banqueiro e prendeu-o no aeroporto

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O Banco Master é acusado de vender carteiras de crédito inexistentes e encobrir a operação com documentos falsos. Possui investimentos de 18 fundos de pensão de servidores públicos.

O sistema bancário brasileiro foi pego por uma tempestade nos últimos dias. Na verdade, o Banco Central do Brasil decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master poucas horas depois da prisão do seu principal acionista, Daniel Vorcaro, quando tentava fugir do aeroporto de São Paulo Guarulhos com destino a Malta, segundo a Polícia Federal. Sua defesa negou a tentativa de fuga e pediu sua soltura. O mandado de prisão ocorreu no âmbito da Operação Compliance Zero, que trouxe à luz uma suposta fraude de 12,2 bilhões de reais, equivalente a 2,287 milhões de dólares, em detrimento do Banco de Brasília (BRB), banco público do Distrito Federal que inclui a capital do país latino-americano, Brasília. Segundo investigações da Polícia e do Ministério Público Federal, o Banco Master teria vendido carteiras de crédito inexistentes ao BRB, encobrindo a operação com documentos falsos apresentados ao Banco Central. O ex-sócio de Vorcaro, Augusto Lima, e três diretores da entidade também foram presos, enquanto o presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, foi suspenso do cargo. A reconstrução do Banco Central indica uma cadeia de transferências simuladas através de empresas fictícias e contratos não autenticados. A decisão de liquidar o Banco Master ocorreu menos de um dia depois de o grupo Fictor manifestar interesse na sua aquisição, com a participação de investidores árabes.

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A notícia agora preocupa milhões de brasileiros. Segundo o Ministério da Previdência Social, até 18 fundos de pensão de servidores públicos estaduais e municipais investiram no Banco Master. As primeiras estimativas apontam para uma possível perda de 2.000 milhões de reais (375 milhões de dólares). O mais afetado foi o fundo de pensão Rioprevidência, que investiu 970 milhões de reais (182 milhões de dólares), seguido pelo Amprev, o fundo de pensão do estado do Amapá, com 400 milhões de reais (75 milhões de dólares). O Rioprevidência informou que está em negociações para substituir seus aplicativos Banco Master, que foram emitidos entre outubro de 2023 e agosto de 2024 e expiram entre 2033 e 2034, pelos chamados precatórios federais, que são ordens de pagamento emitidas pela Justiça. A entidade também garantiu que o pagamento das pensões e subsídios está totalmente garantido e não representa qualquer risco para os beneficiários do estado do Rio de Janeiro. Quanto à Amprev, entre seus assessores está o advogado Alberto Alcolumbre, irmão do presidente do Senado Davi Alcolumbre, e este ano investiu 250 milhões de reais (47 milhões de dólares) em títulos de dívida do BRB em operação irregular, já que a compra de títulos emitidos por bancos públicos é vedada para entidades previdenciárias de funcionários do Estado. Além dos fundos de pensão, outras instituições também investiram quantias milionárias em títulos do Banco Master, como o Banco da Amazônia, que comprou 40 milhões de reais (7,5 milhões de dólares) em títulos de dívida do grupo.

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A liquidação extrajudicial do Banco Master abre agora uma fase delicada para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), chamado a reembolsar até 48 bilhões de reais, o equivalente a 8,996 milhões de dólares, aos poupadores. Este é o maior desembolso da história do Fundo, que hoje conta com 122 bilhões de reais, equivalentes a 22,865 milhões de dólares, em dinheiro. O FGC é uma entidade privada, sem fins lucrativos, criada e mantida pelas próprias instituições financeiras brasileiras como se fosse uma seguradora de pequenos poupadores. É administrado por um Conselho de Administração e um Conselho Fiscal, composto por representantes de bancos e associações do setor financeiro, mas é o Banco Central quem supervisiona e regula as regras relativas à garantia de depósitos, com poder de intervenção indireta.

Para reconstruir rapidamente a sua “almofada” de liquidez, o FGC anunciou agora que os bancos terão de adiantar contribuições futuras, além de pagarem montantes superiores à taxa actual de cerca de 0,01% sobre os depósitos garantidos. Um fardo que recairá principalmente sobre grandes entidades como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, que há algum tempo criticam as práticas agressivas do Banco Master, que oferecia títulos de investimentos com rentabilidade de até 140% dos certificados de depósitos interbancários, os chamados CDIs, bem acima da média do mercado. Os analistas descartam riscos sistémicos, mas alertam que a questão poderá penalizar especialmente as pequenas e médias entidades, expostas ao risco de uma “fuga para a qualidade”, uma vez que muitos clientes poderão preferir transferir os seus investimentos para bancos maiores.

Segundo especialistas, o caso representa um teste de estresse sem precedentes para o FGC e pode até exigir contribuições extraordinárias. “O sistema financeiro fica mais arriscado porque terá menos liquidez do FGC. Se outro banco quebrar, será difícil para o FGC cumprir as garantias”, declarou Marília Fontes, cofundadora da Nord Investimentos, ao jornal O Estado de São Paulo. Na esfera política, continuam as consequências do registro do Banco de Brasília, banco estadual vinculado ao Banco Master. Segundo analistas, ele agora terá que trabalhar para recuperar sua reputação.

O desastre do Banco Master chega em um momento delicado para a economia brasileira. Como informou Lauro Jardim no jornal O Globo, o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deverá deixar o cargo em menos de cinco meses “para concorrer a um cargo importante em São Paulo ou, se desejar, coordenar a campanha de reeleição de Lula”. A saída de Haddad é vista com cautela pelo mercado, que agora se pergunta quem será seu sucessor. Se forem escolhidos nomes internos do ministério, como o secretário executivo Dario Durigan e o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, a transição parece fluida. Porém, o temor é que, como o próximo ano é um ano eleitoral em que Lula investirá todas as suas energias, como já declarou, para vencer, o presidente escolha um ministro que possa atuar em capacidade eleitoral, flexibilizando as regras fiscais e fechando os olhos aos gastos quando necessário. Segundo O Globo, “um analista do mercado financeiro, que prefere manter o anonimato, destaca que Haddad tentou propor alguns cortes de gastos, mas enfrentou problemas de comunicação com o Governo e resistências internas no próprio Partido dos Trabalhadores.

A conta, segundo os especialistas, será muito elevada e chegará quase certamente em 2027, quando, passada a euforia da campanha eleitoral, o presidente eleito terá de enfrentar a realidade e os números. Segundo dados do Banco Central, em setembro a dívida pública brasileira atingiu 78,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a 9,75 trilhões de reais, mas atingiu 90,5% do PIB segundo critérios do Fundo Monetário Internacional (FMI). O défice fiscal consecutivo e o aumento acentuado da despesa pública contribuíram para o crescimento da dívida. Em 2023, o Governo registou um buraco de 230 mil milhões de reais (43,107 milhões de dólares) nas contas públicas, valor que foi reduzido para 43,000 milhões de reais (8,059 milhões de dólares) em 2024. Para 2025, prevê-se um défice de cerca de 75,000 milhões de reais (14,057 milhões de dólares) e, para 2026, 23,3 mil milhões de reais. (4,367 milhões de dólares).

O Governo, quando pode, continua a não contabilizar as despesas no chamado ‘arcabouço fiscal’, ou seja, o novo conjunto de regras de disciplina orçamental adoptadas em 2023 para substituir o anterior limite de despesa. Ainda ontem, Lula promulgou sem vetos o projeto aprovado pelo Congresso Nacional que autoriza o Executivo a gastar até 5 bilhões de reais (937,1 milhões de dólares) por ano em projetos de defesa nacional, que incluem o programa de desenvolvimento de submarinos (Prosub) e o Sistema Integrado de Vigilância de Fronteiras (Sisfron). “O Governo descumpre continuamente as regras. As despesas excluídas das regras são, de qualquer forma, despesas e fazem crescer a dívida pública”, declarou o economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper e ex-assessor especial do Ministério da Fazenda, à revista semanal Veja. Com uma dívida elevada, o mercado exige taxas de juro mais elevadas, o que retarda o crescimento económico. O Brasil tem a maior dívida pública da América Latina e está completamente fora dos parâmetros considerados razoáveis ​​pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que recomenda que os países da região tenham uma dívida entre 46% e 55% do PIB, bem abaixo do nível atual do Brasil. A evolução histórica mostra que a dívida diminuiu durante os dois primeiros mandatos de Lula e o primeiro de Dilma, mas aumentou consideravelmente desde 2015. No atual mandato de Lula, o aumento já é de 6,6 pontos percentuais e pode ultrapassar 100% do PIB em 2028/29, segundo o mercado, caso não ocorra um ajuste fiscal credível.

O Executivo continua a defender a sua política. Segundo o ministro Haddad, que descreve as críticas do mercado como “delirantes”, o Brasil é “melhor que qualquer país da América do Sul” em termos fiscais. Contudo, os economistas alertam que a política fiscal está próxima do limite. Com a já elevada pressão fiscal e a dívida crescente, o país corre o risco de não ter espaço para financiar despesas futuras. A taxa Selic continua muito elevada, em 15% ao ano. Muitos empresários temem que o cenário eleitoral do próximo ano se mantenha inalterado se o Governo continuar a aumentar os gastos públicos ou, o que é pior, temem que o Executivo possa pressionar o Banco Central para os reduzir artificialmente. As declarações do próprio Haddad nos últimos dias criaram alarme. O ministro da Fazenda afirmou que, se fosse membro do Comitê de Política Monetária (Copom), votaria a favor da redução da taxa Selic. “O Brasil deve ajudar a equilibrar as contas: gastar menos, reduzindo assim a inflação e criando espaço para uma queda nas taxas de juros. O crescimento deve vir de investimentos, não de aumento de gastos”, disse Laércio Cosentino, presidente do conselho de administração da empresa de sistemas de gestão Totvs, ao jornal Folha de São Paulo.

As pequenas empresas também sofrem. Segundo a Serasa Experian, uma das principais agências de informação de crédito do Brasil, no passado mês de março foi registado o recorde anual de pedidos de recuperação judicial, com 187 pedidos, o que representa um aumento de 2,2% face ao mesmo mês de 2024. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, cerca de 20% das empresas não ultrapassam o primeiro ano de atividade e 60% fecham antes de atingir cinco. A crise também afecta os cidadãos comuns. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, que realizou pesquisa sobre endividamento e insolvência do consumidor, em outubro passado o percentual de famílias endividadas subiu para 79,5%, o maior patamar da série histórica iniciada em 2010. No total, são 80 milhões de brasileiros endividados, situação preocupante que é agravada pelos chamados juros rotativos do crédito, ou seja, aqueles aplicados quando uma pessoa não paga a totalidade da fatura do cartão de crédito, que atualmente é de cerca de 450% ao ano.



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