A investigação judicial que abala a Agência Nacional de Deficiência (ANDIS), promovida após a revelação dos áudios de seu ex-diretor, Diego Spagnuolo, descreve uma estrutura clandestina dentro da organização, onde funcionários, ex-funcionários e operadores privados teriam montado um sistema para obrigar, inflacionar preços e conceder benefícios econômicos indevidos a um grupo de drogarias selecionadas. O documento, assinado pelo Ministério Público, reconstrói uma trama que combina acesso irregular ao sistema de compras, pagamentos em dinheiro e cadeias de favores entre atores públicos e privados. Além disso, liga membros-chave do governo nacional, como Karina Milei, “Lule” Menem e o próprio Presidente Javier Milei, a uma rede de alegada corrupção.
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No centro do esquema aparece Diego Orlando Spagnuolo, diretor executivo da ANDIS entre 2023 e 2025. Segundo a promotoria, Spagnuolo permitiu e conduziu um “sistema irregular e fraudulento” de compra de medicamentos e insumos de alto custo, ao mesmo tempo em que recebia benefícios financeiros. Ao seu lado, como executor operacional, está Daniel María Garbellini, que desde a Direção Nacional de Acesso aos Serviços de Saúde controlava o SIIPFIS (Sistema Integrado de Administração de Informações e Benefícios), autorizava usuários e habilitava compulsos dirigidos a um seleto grupo de prestadores.
Autoritários não gostam disso
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Mas a própria gestão das decisões, segundo os autos, coube a dois atores que não ocupavam cargos públicos: Pablo Atchabahian e Miguel Ángel Calvete. Ambos são definidos como “chefes paraestatais” que davam ordens dentro da ANDIS sem aparecer nos organogramas. Atchabahian, ex-diretor da agência e ex-funcionário da Roche entre 2021 e 2023, administrou os operadores internos e determinou quais empresas poderiam participar e cobrar. A Calvete, com ligações ao INDECOMM, Profarma e Profusion, articulou pagamentos e alinhou os interesses de diferentes drogarias.
Operadores internos e externos
O elo intermediário do circuito foi completado por operadoras localizadas em áreas-chave. Entre eles, Eduardo “Pino” González, nomeado diretor em junho de 2025, que, segundo a acusação, atuou como intermediário direto de Calvete na gestão de pagamentos e decisões internas. Na mesma linha está Lorena Di Giorno, da área PACBI, apontada como responsável por executar pagamentos irregulares e operar internamente em favor de interesses privados.
Um dos pontos mais sensíveis do dossier é o acesso externo ao SIIPFIS, o sistema informático que controla cada passo das compras. A promotoria afirma que Luciana Ferrari, ex-funcionária da Roche e ex-ANDIS, usou credenciais concedidas por Garbellini para lidar com solicitações externas à organização: agrupou ingressos, reorganizou prazos e executou etapas críticas no circuito.
Outro funcionário importante teria sido Roger Grant, coordenador de Gerenciamento de Emergências, que segundo a acusação cumpria ordens de Garbellini para dirigir os arquivos.
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As drogarias beneficiadas
O circuito teria favorecido sistematicamente um grupo limitado de empresas fornecedoras de medicamentos e insumos. As drogarias citadas são:
– Profarma SA, registrada em Calvete, Ruth Lozano e Federico Santich.
– Profusion SRL, parte do mesmo quadro societário.
– Génesis SA, dirigida por Andrés Arnaudo, com colaboração de Patricio Rama e Atchabahian.
– Nova Farma SA, presidida por Silvana Escudero, também ligada a Rama e Calvete.
– Floresta SA, liderada por Alejandro Fuentes Acosta, identificada como uma das maiores beneficiárias.
Essas empresas, detalha o parecer, se revezavam em contratos “especiais” e recebiam premiações com prêmios e condições preferenciais.
As acusações trazidas
O Ministério Público solicita investigação e, em alguns casos, prisão dos acusados dos crimes de associação ilícita, fraude, administração fraudulenta, suborno, suborno ativo e negociações incompatíveis com cargos públicos. A hipótese é convincente: havia uma organização com papéis definidos, níveis hierárquicos e benefícios económicos diretos.
À medida que o caso avança, o documento revela uma operação paralela dentro da organização que, se confirmada judicialmente, exporia um dos maiores esquemas de corrupção no sistema público de saúde e assistência social dos últimos anos.
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Resumo de “quem é quem” no caso ANDIS
Diego Orlando Spagnuolo, Diretor Executivo da ANDIS (dezembro de 2023 – agosto de 2025). Ele é acusado de: dirigir e permitir um sistema ilegal de contratação de medicamentos e insumos de alto custo, direcionar a manipulação de preços em favor de um pequeno grupo de drogarias, receber benefícios econômicos indevidos (subornos), fazer parte de uma organização criminosa dentro da ANDIS. Crimes: fraude por administração fraudulenta, fraude, suborno, associação ilícita, negociações incompatíveis.
Daniel Maria Garbellini. Diretor Nacional de Acesso aos Serviços de Saúde (junho de 2024 – agosto de 2025). Ele é acusado de: executar o roteamento de compras e sobretaxas, permitir que pessoas de fora da administração operem o sistema de compras SIIPFIS, cobrar pagamentos indevidos, integrar e coordenar o funcionamento da organização criminosa.
Miguel Ángel Calvete. Vinculado a: INDECOMM SRL, Profarma SA, Profusion SRL e outros. É acusado de: ser operador externo com influência nas decisões de compras da ANDIS, coordenar pagamentos e cobranças em favor de diferentes drogarias, administrar pagamentos indevidos a funcionários, beneficiar-se de direcionamento de compulsões e sobretaxas, integrar a organização criminosa.
Pablo Atchabahian. Cargo anterior: Diretor da ANDIS (2018–2019). Ex-funcionário da Roche SAQEI é acusado de: ser patrão paraestatal, dar ordens dentro da ANDIS sem ter cargo, participar na direção de compras, operar o sistema SIIPFIS através de pessoas internas, coordenar pagamentos e benefícios para empresas fornecedoras, integrar a associação ilícita.
Eduardo Nélio “Pino” González. Cargo: Diretor de Apoio Econômico e Alocações (nomeado em junho de 2025). Ele é acusado de: atuar dentro da ANDIS respondendo a Calvete, antes mesmo de sua nomeação, intervir no encaminhamento de pagamentos, receber divisas indevidamente, participar do esquema de corrupção.
Lorena Di Giorno. Cargo: Área PACBI (Benefícios e Insumos de Alto Custo e Baixa Incidência) da ANDIS. É acusada de: ser operadora interna ao serviço de Miguel Ángel Calvete, efetuar pagamentos irregulares a empresas e pessoas, manipular informação e executar ordens de contratação direta.
As demais pessoas convocadas para investigação que tenham participação secundária ou complementar são:
Roger Grant (Coordenador de Emergência – executor das ordens de Garbellini). Luciana Ferrari (ex-funcionária da Roche – operava o SIIPFIS fora da ANDIS). Federico Santich (ligado à Profusion e Profarma). Patricio Rama (drogarias New Farma e Génesis). Ruth Lozano (acionista da Profarma). Guadalupe Muñoz (sócia de Calvete, movimentava dinheiro). Andrés Arnaudo (presidente da Génesis SA). Silvana Escudero (presidente da New Farma SA) Alejandro Fuentes Acosta (presidente da Droguería Floresta SA)
MU/fl
*Esta nota foi elaborada com auxílio de Inteligência Artificial







